Empresas de tiro esportivo faturam R$ 1 milhão por mês, mas querem fortalecer setor e atrair eventos; desafio semelhante têm os empreendedores de práticas integrativas e de cafés especiais para conquistar público e mostrar diferenciais
Presente desde a primeira edição da era moderna, o Tiro Esportivo é uma das modalidades tradicionais dos Jogos Olímpicos. A serviço do esporte, as armas são instrumentos de precisão que premiam a concentração e a habilidade do atirador.
Foi o tiro esportivo que deu ao Brasil as primeiras medalhas olímpicas, inclusive a de ouro. O atirador Guilherme Paraense ocupou o lugar mais alto do pódio do tiro rápido masculino em Antuérpia em 1920.
Entretanto, em vez destes momentos de glória, o tiro esportivo quase sempre está atrelado à violência. É uma associação que limita a publicidade e o crescimento do setor. “Os algoritmos de divulgação têm preconceito com o segmento e boicotam as publicidades e as divulgações referentes à modalidade”, explica Guilherme Augusto Santana Garcia, atirador esportivo e instrutor de armamento e tiro, além de gerente do Guerreros Clube de Tiro.
Para se adequar e mudar a percepção, inclusive por meio da legislação, as empresas do setor resolveram se unir por meio do programa Empreender e criaram o Núcleo de Tiro Esportivo de Maringá, oficializado em outubro do ano passado. O grupo conta com oito integrantes, representando 11 empresas. Juntas, elas faturam cerca de R$ 1 milhão por mês e empregam mais de 50 colaboradores diretos.
“Só duas empresas que atuam com e-commerce faturam na casa de R$ 500 mil por mês. Os três clubes de tiro que integram o núcleo faturam de 50 a 80 mil por mês cada”, revela Garcia, que é um dos fundadores e conselheiro do núcleo.
Segundo ele, Maringá tem mais de 10 mil CACs (Colecionador, Atirador e Caçador), a maioria empresários e profissionais com renda fixa. Além do público local, o setor é impulsionado por eventos e competições que atraem atiradores de diversos cantos do país. E destes casos, a economia local também ganha por meio de outros setores, como hotéis, restaurantes e shoppings.
“Nossa intenção com o núcleo é buscar o apoio da prefeitura, das autoridades e de empresas de outros segmentos para incentivar e realizar eventos, feiras e competições a fim de movimentar a economia regional”, diz Garcia.
Maringá é referência no Paraná, uma vez que é a segunda cidade com mais clubes de tiros ativos, atrás de Curitiba, e conta com atletas de alto nível. “Maringá já teve atletas disputando competições nacionais e até internacionais. Queremos resgatar este tempo de glória”.
Físico, mental e emocional
Desafio semelhante tem o Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares, ativo desde julho de 2018. Aqui, os esforços dos oito integrantes, a maioria profissionais autônomos, é resgatar a importância de terapias, algumas usadas há milhares de anos como tratamentos de saúde em culturas e comunidades.
“O principal desafio da classe é conscientizar as pessoas que as práticas integrativas são complementos ao tratamento médico”, pontua João Paulo Simplício, membro do núcleo e especialista em eletromagnetoterapia.
Cientes de que juntos têm mais força, o grupo aposta em ações práticas. Quinzenalmente, os profissionais visitam a Associação de Parkinson de Maringá e oferecem serviços terapêuticos de forma voluntária. No ano passado, organizou o evento Acim Mais Saúde para divulgar o bem-estar físico, mental e emocional proporcionado pelas terapias complementares, em especial para colaboradores de empresas.
Segundo Simplício, em ambientes corporativos marcados pela pressão por resultados, longas jornadas e tarefas intensas são cada vez mais comuns problemas como estresse, dores físicas, ansiedade, depressão e até Burnout.
“Esses transtornos não afetam apenas o bem-estar dos trabalhadores. Eles também reduzem a produtividade e aumentam os custos operacionais com afastamentos e tratamentos, prejudicando o desempenho da equipe. Investir no cuidado emocional e físico dos colaboradores é uma responsabilidade ética e estratégica das empresas, além de uma obrigação legal, como a NR1 (norma regulamentadora)”, cita.
Os programas de apoio psicológico, terapias integrativas, treinamentos sobre inteligência emocional e iniciativas de bem-estar são ferramentas eficazes para promover um ambiente saudável e harmonioso, bem como para aumentar o engajamento, a retenção de talentos e a colaboração interna, impactando os resultados financeiros da empresa.
“O núcleo tem o objetivo de oferecer soluções que melhorem a qualidade de vida e a produtividade no ambiente corporativo, utilizando técnicas como Reiki, Barra de Access, constelação familiar, meditação/relaxamento restaurativo, dança circular, entre outras”, conclui Simplício.
Da colheita à torrefação
Já o núcleo de cafés especiais, batizado de Rota dos Cafés Especiais de Maringá e Região, ‘surgiu’ em 2022 com a missão de elevar a experiência gastronômica de tomar um café, aliando o sabor da bebida a memórias, informação e cultura.
O café especial é resultado de um processo rigoroso até a torra, que envolve, por exemplo, a seleção detalhada dos grãos durante a colheita. “Embora o setor estivesse crescendo, era pouco compreendido pelo consumidor final e enfrentava desafios isoladamente”, conta Patrícia Duarte, presidente do núcleo e proprietária do Le Petit Café, a primeira cafeteria de bairro de Maringá especializada em cafés especiais.
A solução veio por meio do programa Empreender, que uniu 13 empresas, entre cafeterias, torrefações, marcas de café, padarias, docerias e fornecedores da cadeia.
Desta união surgiu a Rota dos Cafés Especiais que, além de promover as empresas, organiza degustações gratuitas, experiências turísticas e participação em eventos. Outro importante impulso veio com o podcast Papo Coado, lançado para dar voz aos empreendedores e baristas da região.
“Juntos, conseguimos trocar experiências e dar visibilidade ao setor, cuja maioria das empresas em Maringá é de pequeno porte, liderada por empreendedores que atuam diretamente no negócio e tem de dois a cinco anos de mercado. Essa união nos possibilitou também firmar parcerias com o Sebrae, o Visite Maringá e a própria Acim, ampliando nossa capacidade de articulação”, comemora Patrícia.
Durante as reuniões, o grupo troca informações sobre gestão de equipe, incluindo recrutamento e retenção de talentos, capacitação técnica e estruturação financeira. Isso porque, embora comprometidos com a qualidade e movidos por propósito, os negócios ainda carecem de suporte técnico e apoio estruturado para crescer. Mesmo assim, já se destacam como vetores cultural, social e econômico.
“O setor de cafés especiais gera empregos, movimenta o turismo de experiência, apoia produtores e fornecedores regionais e cria hábitos de consumo. As cafeterias são pontos de encontro, trabalho e conexões que impactam na vizinhança”, finaliza.