Esta é a primeira de uma série de reportagens, da Revista da Acim, voltada a empreendedores que encaram os desafios diários da gestão. Ao longo das próximas edições vamos abordar temas como planejamento, finanças, construção de marca, cultura organizacional, entre outros, com o objetivo de ajudar o empresário a manter seu negócio próspero e em crescimento.
Nesta reportagem, reunimos histórias e orientações práticas sobre três pilares do início da jornada empreendedora: entendimento do público-alvo, organização contábil e gestão financeira. Se você está se perguntando “e agora?”, este conteúdo é para você.
Mudança de público
Cassia Vieira inaugurou a Mesa de Cássia, em Maringá, com foco em mesa posta e itens de decoração para o varejo. A decisão veio após experiência em outra cidade, onde o modelo funcionou, mas a nova realidade a surpreendeu. “Fizemos a análise do perfil dos clientes e das vendas e concluímos que 95% das vendas no período de um ano, de junho de 2024 a junho de 2025, foram voltadas a empresas que compraram presentes personalizados”, explica.
A descoberta veio com o apoio do programa ENE, da Acim e Sebrae, e a orientação do consultor Rafael Roque. A mudança de estratégia foi impulsionada principalmente pela demanda crescente de empresas que começaram a solicitar visitas para conhecer os produtos. “As empresas não se deslocavam à loja física. Elas pediam que eu fosse visitá-las para apresentar os presentes corporativos”, lembra.
A virada de chave aconteceu com a decisão de encerrar o espaço físico em junho, e investir em impulsionamento digital. O nome da empresa foi mantido, “Mesa de Cássia Home”, pois a linha para casa continua sendo vendida online. O público corporativo, porém, tornou-se o carro-chefe, especialmente com a participação de Cassia no Acim Mulher, que abriu portas importantes.
“Desenvolver produtos personalizados com a história de cada empresa fez toda a diferença. Meu trabalho não é apenas vender peças personalizadas, mas oferecer uma curadoria exclusiva, e é esta conexão agrega valor aos clientes”, explica. De acordo com a empresária, a experiência de início é válida para que o empreendedor conheça o mercado e o público-alvo. Estar atento às demandas do mercado e manter conexão com o cliente são decisivos para atender o cliente ideal.
Contabilidade, o primeiro passo
Abrir empresa sem consultar um contador é um erro comum e arriscado. O consultor tributário Lucas Cerino, da Fronde Consultoria, explica que é recomendado procurar apoio contábil antes de iniciar o processo de abertura. “O ideal é que o empreendedor procure um contador, tire as principais dúvidas e desenhe uma ideia de planejamento. Isso inclui solicitar as licenças obrigatórias e realizar a abertura de forma correta. Algumas pessoas têm receio de buscar ou consultar um contador porque acreditam que terão que sair pagando impostos, mas não é assim. O contador irá ajudar”, orienta.
Um dos primeiros desafios é escolher o regime tributário adequado. Cerino explica os três principais:
• Lucro real: obrigatório para empresas com faturamento acima de R$ 78 milhões ou instituições financeiras. É vantajoso para empresas com margens de lucro pequenas ou muitos custos dedutíveis, como indústrias e agronegócio;
• Lucro presumido: indicado para negócios com alta margem de lucro e menos despesas dedutíveis, como clínicas médicas e empresas com faturamento acima de R$ 4,8 milhões;
• Simples Nacional: voltado a empresas com receita de até R$ 4,8 milhões por ano. Como unifica tributos e reduz burocracia, é ideal para pequenos comércios, indústrias e prestadores de serviços.
O consultor recomenda que, ao final de todo ano, o empresário revise o enquadramento. “É preciso solicitar ao contador uma análise do desempenho tributário da empresa, porque isso potencializa as margens de lucro e evita desperdícios”.
Outro ponto importante é que o contador não se limita à entrega de obrigações fiscais. “Ele é um parceiro estratégico do empresário. Deve participar da gestão do fluxo de caixa, da análise de indicadores de rentabilidade e da tomada de decisões. O papel do contador é criar o mapa que direcionará a empresa”, afirma.
Sobre o popular MEI (Microempreendedor Individual), Cerino reforça a importância desta figura jurídica como porta para quem deseja empreender de forma simples, acessível e formal. “Mesmo sendo um regime simplificado, o acompanhamento de um contador pode ser importante, especialmente na transição para categorias mais complexas, conforme o negócio crescer”, destaca.
Ele chama a atenção para um tema que está movimentando o mundo dos negócios: a Reforma Tributária. “Ela já é realidade. Todos os empreendedores, independentemente do porte, devem procurar seu contador e começar a planejar o futuro da empresa, isso pode evitar surpresas e colocar o negócio à frente da concorrência”.
Erros comuns
A gestora da Silni Assessoria, Fabia da Silva Mateus, acompanha a realidade dos novos empreendedores. Segundo ela, muitos começam sem capital de giro, misturam finanças pessoais e as da empresa e não têm clareza sobre o que é lucro, pró-labore e faturamento. “Isso gera falta de controle e acompanhamento do fluxo de caixa. E no primeiro aperto, o negócio para ou entra num endividamento mal planejado”, alerta.
Para organizar as finanças, não é preciso investir em softwares caros. Fabia recomenda ferramentas simples como caderno, planilha de Excel ou aplicativos gratuitos. O mais importante é manter tudo anotado. “A melhor ferramenta é aquela que está com as informações atualizadas. O empresário não pode confiar só na memória”, reforça.
Ela sugere um modelo simples de fluxo de caixa com três colunas: entradas (receitas), saídas (fixas e variáveis), saldo previsto e realizado. Um planejamento de, no mínimo, três meses ajuda a prever gargalos e tomar decisões com mais segurança. Outro ponto é entender a diferença entre lucro e caixa. Às vezes, a empresa é lucrativa, mas não tem dinheiro disponível. “Isso pode acontecer por vendas parceladas, compras à vista, estoque parado, antecipações com altas taxas ou inadimplência. Por isso, é essencial acompanhar o fluxo de caixa semanalmente”, explica.
E o que muda quando o empreendedor separa as finanças pessoais das empresariais? “Ele passa a saber se a empresa tem lucro ou prejuízo, o valor que pode retirar como salário, se pode investir ou se precisa cortar custos. Também facilita o acesso ao crédito, evita problemas fiscais e melhora a tomada de decisões”, enumera.
Fabia alerta sobre o valor da reserva de emergência. “Muitos saem do emprego e abrem um negócio achando que vão tirar um salário no primeiro mês. Isso raramente acontece. É preciso planejar o bolso para a transição”.
Planejamento
Quem entendeu a importância de um bom começo foi Michele Machado, do Doce Momento Bolos Caseiros. O negócio nasceu em 2022 com o desejo da sócia Jéssica Camargo de oferecer “bolos que resgatam memórias afetivas, momentos à mesa e lembranças da infância, da casa da avó”.
Mas foi neste ano que as sócias deram o passo de transformar o Doce Momento em empresa e elas buscaram apoio contábil. “A contadora nos auxilia além da parte fiscal e contábil. Não chegaríamos aqui sem um bom escritório”, afirma Michele. Foi a contadora que indicou o sistema que elas usam para gerenciar vendas e controlar as finanças. Os custos dos insumos são revisados constantemente, e o cardápio passa por ajustes conforme o feedback dos clientes.
“Empreender é um desafio. O primeiro ano traz o peso da inexperiência. Às vezes erramos em áreas que achávamos estar preparadas. Meus conselhos são: peça ajuda para quem já passou por esse período e não tenha medo de errar, mas seja rápido em corrigir. Invista em bom atendimento, pois isto é tão ou mais importante que o produto. E por último, tenha fé e acredite que você pode tudo naquele que te fortalece”, aconselha Michele.