Demissão abriu caminho para retomada do empreendedorismo

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“Estamos entre as cinco maiores empresas de gestão condominial do país”, orgulha-se Marcelo Liberati ao apresentar a estrutura da Euro Condomínios, que ocupa um andar inteiro da Torre 2 do Edifício New Tower Plaza, em Maringá.

O ambiente em nada lembra a primeira sala, alugada em 2008. “No início não tinham funcionários. Hoje são quase cem espalhados pelos oito escritórios”, enaltece o fundador e CEO da Euro Condomínios. Com matriz em Maringá, a Euro administra mais de 600 condomínios, num total de 70 mil unidades habitacionais em oito cidades brasileiras.

Antes de fundar a empresa, Liberati trabalhou como balconista de farmácia, comprador em um curtume, vendedor de medicamentos e bancário. Embora o fim da carreira como empregado não tenha sido uma escolha, a demissão do banco abriu caminho para resgatar o espírito empreendedor do garoto que, com ousadia e proatividade, impulsionou as vendas da lanchonete do avô na adolescência.

Depois da Euro, em 2018, Liberati fundou a Mondonex, especializada no compartilhamento de imóveis e embarcações de lazer da qual é sócio. Pela trajetória, Liberati foi eleito o Empresário do Ano 2025 e receberá a homenagem em 22 de agosto, às 20h, ao lado da esposa, Fernanda Monteiro, e dos filhos Mariana, Leonardo e João Miguel.

Você começou a trabalhar cedo, aos 12 anos. Como foi este início?

Meu pai era bancário e por causa da profissão, mudávamos de cidade a cada dois anos. Quando eu tinha 12 anos, meu pai era gerente em Maringá e foi promovido a diretor em Londrina, mas antes pediu para trabalhar um tempo na agência de Rolândia onde tinha iniciado a carreira. Por causa do ano escolar, fui antes morar com os meus avós. O meu avô tinha uma lanchonete na rodoviária e me levava para ajudá-lo no período da manhã. Na época, os motoristas dos ônibus desciam rapidinho para tomar um café. Um dia um passageiro gritou da janela do ônibus pedindo para eu levar uma Coca-Cola para ele. Daí surgiu a ideia de sair vendendo para os passageiros. Arranjei uma bandeja e, quando os ônibus estacionavam, corria nas janelas oferecendo biscoitos, salgadinhos e refrigerantes. Eu dava uma coxinha e café para o motorista e ele ‘segurava a partida’ até eu finalizar as vendas. O meu avô ficou admirado por causa do aumento do faturamento. De certa forma este foi meu primeiro negócio.

Antes de voltar a empreender você teve outros empregos?

Depois da lanchonete, trabalhei numa farmácia, e lá vivi uma das maiores frustrações da vida. Estava feliz porque trabalhava na farmácia de jaleco branco. Num fim de semana de plantão chamei meus amigos para irem lá me verem trabalhando. Só que bem no horário em que eles passaram, em vez de estar no balcão, eu estava passando pano no chão a pedido do dono da farmácia. De início fiquei chateado porque foi aquela ‘zoação’, mas depois esta experiência se revelou construtiva. Entendi que não tinha que ter vergonha por limpar o chão, e sim estar orgulhoso por trabalhar. Da farmácia fui para uma distribuidora de medicamentos. Só que surgiu a necessidade de viajar e eu não tinha carteira. Voltei para Rolândia e trabalhei num curtume. Lá entrei como contador de produto químico e desenvolvi um esquema de planilhas para organizar o estoque. Logo fui promovido a gerente de compras. Era um garoto ainda e negociava com companhias compras gigantescas de produtos. Quando os diretores me conheciam pessoalmente, ficavam surpresos com a minha juventude.

Como seguiu os passos do pai e virou bancário?

Aos 19 anos passei a rodar pelas cidades fazendo vendas. Na época, neste mercado de medicamentos, a distribuidora era o aval e uma das farmácias quebrou gerando dívida gigantesca para a distribuidora. Vendi o carro, paguei a dívida e fui trabalhar no banco em Umuarama. Trabalhei como gerente de negócios e depois consegui a transferência para Maringá. Aqui trabalhei três anos no Unibanco até ser convidado pelo Santander para ser gerente de uma nova agência. O banco tinha metas de vendas de produtos e fiz uma negociação com a prefeitura de Maringá que resultou na instalação do primeiro Santander na prefeitura quando o mercado era dominado pelo Itaú e Banco do Brasil. Isso me rendeu prêmios e por quase um ano fui eleito o melhor gerente. Só que eu fazia as coisas sem conversar com o gerente-geral e isso criou animosidade. Quando a minha carteira parou de crescer, por uma questão natural do mercado, este gerente me mandou embora. Na hora fiquei desnorteado, rodei o dia inteiro antes de voltar pra casa, mas hoje dou graças a Deus porque naquele momento decidi que começaria um negócio.

Como surgiu a Euro Condomínios?

A Euro nasceu em 2008 porque na época virei síndico do meu prédio. Procurei os concorrentes em busca de serviço de gestão, mas não encontrei uma opção que atendesse o que eu queria. Convoquei o conselho e os moradores e sugeri fazer autogestão. O condomínio autorizou e passei a fazer a gestão, incluindo a geração de boletos, relatórios e documentação. Numa conversa informal com um amigo, comentei sobre a autogestão e ele pediu ajuda para o prédio dele. Comecei a fazer para dois, três, quatro, cinco condomínios de amigos. No sexto, que não era de nenhum conhecido, decidi abrir a empresa. Até então era um auxílio, uma consultoria. Em agosto de 2008, com cinco contratos, estruturei o escritório e abri a Euro. No início não tinha funcionário, eu limpava o banheiro, dobrava os boletos, fazia tudo. Aos poucos fomos aumentando o número de condomínios para 10, 20, 30…

Qual é a estrutura da empresa?

Temos 94 funcionários e oito escritórios externos. Além de Maringá, estamos em Curitiba, Londrina, Paranavaí, Campo Grande/MS, Teresina/PI, Balneário Camboriú/SC, Presidente Prudente/SP e Campinas/SP. O escritório mais recente é o de Campinas, aberto há um ano e tem cerca de 40 condomínios. O processamento de todos os escritórios externos é feito na central de operações de Maringá, que é uma central de serviços compartilhados.

Qual é a maior dificuldade na estruturação desta empresa?

O turnover é gigante. Tem gente que está comigo há 12, 15 anos. Quanto ao pessoal mais novo, conseguimos segurar no máximo três anos. Depois o colaborador voa para o mercado porque não se adapta ou tem outras ofertas. Estamos com dificuldade para romper essa barreira de três anos. Isso atrapalha a estruturação da empresa porque nosso público são, na maioria, pessoas de 40, 50, 60 anos ou mais. E eles se incomodam com as mudanças de colaboradores que os atendem. Além da rotatividade, há o conflito de gerações, não dentro da empresa, mas entre clientes e colaboradores. Há uma mudança de perfil, de vestimenta, de cor do cabelo dos colaboradores. Precisamos mostrar para os clientes que eles estão sendo atendidos por um CNPJ, não por um CPF. Ou seja, independente do perfil do colaborador, o serviço ou o produto será entregue dentro dos padrões da empresa.

Como a tecnologia impacta neste setor?

Há um ano e meio contratamos uma equipe de seis desenvolvedores. Usamos um sistema mãe, que atende 4 mil administradoras no país, e estamos entre as cinco maiores do país. São 70 mil unidades habitacionais e cerca de 300 mil pessoas atendidas. Neste universo precisamos criar produtos porque a cultura muda de uma cidade para outra. O morador e o síndico de Maringá pensam diferente do curitibano, já o escritório de Teresina tem outras necessidades e demandas. Temos que nos adaptar e oferecer soluções para todos.

O que motivou a fundar a Mondonex, especializada no compartilhamento de imóveis e embarcações de lazer?

A Mondonex nasceu para resolver problemas de amigos que compartilhavam imóveis de lazer e estavam tendo atritos de gestão. Um não pagava a conta, outro deixava a casa bagunçada, e isto influenciava a harmonia da sociedade. Então, criamos a empresa e passamos a administrar esta rotina. Transformamos a casa num condomínio e passamos a fazer o rateio de despesas, a manutenção do imóvel, a limpeza e a organização do ambiente. Organizamos a casa para a chegada de cada um dos clientes. Quando for a vez do Marcelo, ele vai chegar e encontrar a sua roupa de cama, o porta-retrato da família no balcão, a comida no armário. Todas as casas têm armários individuais para separar e guardar os pertences. Quando o outro dono chegar na próxima semana, também vai encontrar a casa organizada sem precisar se estressar com a roupa de cama suja, o sofá rasgado, a televisão queimada ou objetos quebrados. É um modelo de negócio que tem sido bem-sucedido.

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